Como superar Autores Clássicos?

Eu vou começar a falar bastante de Máscaras de Nyarlathotep nesse Blog e também nos vídeos do canal de Youtube. Não sabe do nosso canal? Clica aqui:

R2PG – YouTube

Calma! Não se vá… Não vou falar de Máscaras de Nyarlathotep ainda, mas com ela eu aprendi uma coisa muito legal, que é a sua capacidade de superar autores clássicos. Quer aprender? Vem comigo!

Separando Autor da Obra

Imagine que alguém fez uma versão low magic de uma era específica do passado de seu país. A obra dessa pessoa é tão impactante, provocante e inspiradora que as pessoas até fazem fanfics, cosplay, porque ela foi importante para muitas pessoas gostarem do tema de samurai, gostarem da cultura oriental. Mas tem um detalhe, as pessoas não gostam do Criador dessa obra. Pra quem não percebeu estou falando de Samurai X!

E agora, será que devemos separar a obra do artista?

A resposta é não, porque isso não é possível!

Por exemplo, um crente observando o universo ou lendo a bíblia pode enxergar os traços de personalidade de Deus, o que ele gosta, o que ele não gosta, por aí vai. Logo, não tem como separar o autor, nesse caso sendo Deus, de sua criação, que nesse caso poderia ser o universo ou a Bíblia. 

Mas Dimitri, por que você está falando de Deus e do universo? Porque sou um católico, crente em Deus, e esse artigo é escrito por mim, é impossível que parte de minha ideologia e pensamento não se impregne nele.

E seguindo essa lógica, também não daria para separar Nobuhiro Watsuki, JK Rowling ou, quem iremos detalhar mais nesse artigo, HP Lovecraft de suas obras literárias, pois as suas personalidades estão embutidas dentro da obra.

Então isso quer dizer que quem ler Samurai X concorda com pedofilia, quem lê Harry Potter favorece a transfobia e quem joga Chamado de Cthulhu RPG suporta o racismo? Não! Assim como você que lê esse meu artigo não necessariamente apoia o catolicismo, ou crê em Deus e tudo o mais!

Transcendendo o Autor da Obra

Por muito tempo eu carrego comigo alguma culpa, pois eu deixei de consumir tudo e qualquer obra/produto que se relacionasse ao Nobuhiro Watsuki, Autor de Samurai X, que foi condenado por possuir em seu computador imagens pedófilas. Mas ao mesmo tempo, consumo Lovecraft com afinco, mesmo sabendo que ele foi um Racista. Não só isso, eu escrevo sobre ele, recomendo produtos que fazem referências a suas obras e seus livros em si. Poxa, tenho uma coleção interminável desse homem na minha casa.

A população é um emaranhado e um enigma incorrigível; elementos sírios, espanhóis, italianos e negros chocam-se uns com os outros, e fragmentos de cinturões escandinavos e norte-americanos não vivem muito longe. Trata-se de uma babel de sons e sujeira lançando exclamações estranhas para responder ao barulho das ondas oleosas nos molhes imundos e às ladainhas monstruosas dos apitos do porto. Muito tempo atrás se vivia um quadro mais aprazível, com marinheiros de olhos claros nas ruas mais abaixo e lares de bom gosto e solidez onde as casas maiores acompanham a colina.

H.P. Lovecraft – Horror em Red Hook

E eu dei muitas desculpas para tanto:

“Ah, mas o Lovecraft já está morto!”

“Isso não invalida o que ele escreveu…”

Mas vamos voltar ao assunto, aproveitar das obras de autores que têm algum desvio de caráter é assunto para outro texto, estou aqui para ensinar a transcendê-los.

Existem outros jogos, obras, que subvertem o Horror Cósmico, limitando o medo do desconhecido ao desconhecido além da compreensão humana, retirando a analogia do estrangeiro, bem como substituindo o Terror da indiferença cósmica pela maldade humana.

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Mas, mais uma vez, não estou aqui para ensiná-los a subverter e sim a transcender! 

As primeiras edições de Máscaras de Nyarlathotep (1984), possuíam a mácula do homem que criou a obra que inspirou o RPG. Tinha muitos entendimentos racistas e xenofóbicos, o que está em perfeita sintonia com a obra do Autor.

Mas essa última edição, trazida ao Brasil pela Editora New Order, traz toda a transcendência de que eu estou falando, pois ela supera seu Autor ao ponto em que não simplesmente ignora os fatos racistas que covardemente são ocultados nas obras originais, ou afastados da discussão por quem se atreve a se inspirar, mas lhe falta a coragem de assumir suas raízes.

Para que possam entender, preciso exemplificar, mas não se preocupem, meu exemplo não vai furtar grandes revelações.

O jogo começa no Peru, diferente do original que começa em Nova York. No Peru os jogadores assumem papel de exploradores de uma terra desconhecida, ou seja, você começa o jogo assumindo o papel de um estrangeiro e os habitantes do local não são tratados como ignorantes adoradores de ídolos blasfemos. Muito pelo contrário eles demonstram ter muito mais conhecimento que você e que talvez essa suposta “civilização” que você faz parte seja o que há de prejudicial naquela terra.

Após isso nós vamos para Nova York, onde percebemos outras grandes diferenças, tendo em vista que também há Nova York na primeira edição. Na maior cidade do mundo daquela época (1925), vemos a mácula do segregation e os seus inimigos não são meros estrangeiros, que não deviam ali estar, maculando a terra sagrada com sua cultura não cristã! Muito pelo contrário, ainda há estrangeiros nas fileiras de seus inimigos, mas também há na de seus aliados, ficando muito claro, que aqueles que buscam aliar-se às entidades cósmicas são párias para o mundo todo e não para o “mundo civilizado”.

Concluindo

Uma obra cujo o autor carregue uma ideologia prejudicial, não é uma obra que deva ser queimada, nem acho que escolher deixar de ler seja uma escolha saudável, mas acredito que devemos absorver tudo de bom que aquela pessoa possa nos passar. Lermos entendendo a mancha que existe em sua obra e a partir daí utilizarmos tudo que absorvemos trazendo à luz, para que possamos criar de maneira saudável uma obra que supere seu Autor clássico.

2 Comentários
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Xikowisk

Eu vi um vídeo, há cerca de um ano, do Tarcísio Lucas que falava dessa expropriação, porém com a obra do Marcelo Del Debio. Eu acho que isso é benéfico até certo ponto. No caso do Lucas, é algo que não está mais no mercado, portanto não beneficiaria o seu autor. O mesmo se aplica ao caso por você levantado. O autor, já falecido, nada ganharia. Já no caso da editora estadunidense White Wolf, ainda em atividade, tal expropriação é boa para mantenessão de episódios racistas e xenófobos como no caso denunciado por Alessa Torres. A expropriação de obras de autores de anti-éticos, a meu ver, só são válidas caso os mesmos tenham falecido, ou desistido da continuidade da obra.

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