Life is Strange é um icônico jogo de aventura de 2015. Aclamado por seu enredo, tem uma história tão bem desenvolvida quanto contada.

Como todo enredo profundo, a história que se estende (até agora) por Life is Strange e Life is Strage: Before the Storm pode ser vista por vários ângulos diferentes.

Atenção: Este artigo contém spoilers!

Lendo as entrelinhas

Se você não está familiarizado com o exercício de analisar roteiros, este artigo pode parecer uma simples ideia infundada. Porém, o escritor Christopher Vogler, autor de A Jornada do Escritor, mostra que alguns autores pensam muito mais do que escrevem e usa esta técnica para desvendar alguns detalhes.

Um exemplo presente na segunda edição do livro acima mencionado analisa o filme Pulp Fiction. A obra de Quentin Tarantino à primeira vista parece uma mistura eventos em uma linha do tempo divinamente embaralhada, mas tudo tem um porquê muito além da violência gratuita e os jargões inesquecíveis.

Vogler cita a morte do personagem Vincent Vega não como uma falta de sorte, mas como a consequência de sua falta de respeito para com Butch e sua ingratidão a alguma força maior por não ser alvejado no início do filme.

Há muitas outras situações, mas nenhuma delas é o foco deste artigo. Então, se você entendeu a ideia geral, bora para o que interessa!

A Força da Natureza

Life is Strange começa com um aviso. A protagonista Max Caulfield sonha que um tornado arrasará a cidade. Quando acorda, descobre que tem o poder de voltar no tempo.

A Natureza usa esse sonho como um aviso das consequências das ações futuras de Max. Apesar de isso não ser claro no início, a chance de Max reverter a situação no final prova esta afirmação.

A natureza quis adverti-la de que usar os poderes para salvar sua amiga Chloe da morte causaria um desequilíbrio que custaria as vidas de muitas pessoas.

Considerando todas as vezes em que Chloe morre durante o jogo e é salva, podemos entender que era importante que ela morresse (ou pelo menos fosse paralisada) para que o equilíbrio fosse mantido.

Na “prequela” chamada Before the Storm, outro desastre ambiental se desencadeia quando Rachel, em uma fúria imensa, acidentalmente causa um enorme incêndio florestal.

Como nem Chloe, nem Rachel possuíam poderes como os de Max, é possível que a natureza não tenha conseguido avisar ninguém com antecedência. Entretanto, para corrigir o equilíbrio, Rachel acaba morta dias depois.

O Guardião do Equilíbrio

Alguma força da natureza estava incomodada com as ações de Chloe e Rachel e decidiu eliminá-las. Mas quem faria o serviço?

Quem poderia ouvir a voz da morte sussurrar em seus ouvidos e acatar suas ordens? Claro, o garoto perturbado, mentalmente instável, o filho do “dono” da cidade: Nathan Prescott.

É ele quem mata Chloe na linha do tempo original, no banheiro da escola. E é para ele que Max entrega a vida da amiga novamente se quiser salvar todos os outros.

Mesmo que ela mude o passado, a natureza só se satisfaz se seu assassino tirar a vida do alvo.

Já Rachel não tem tanta escolha. Antes que pudesse fugir de casa com a amiga ou resolver o mistério de sua mãe, sua beleza e popularidade a fazem a modelo ideal para que Nathan tente impressionar seu mentor psicopata e a mate.

Parar para Pensar

Então, Nathan Prescott não é o carrasco, trazedor de dores, mas sim o guardião do equilíbrio?

Será que os escritores Christian Divine e Jean-Luc Cano pensaram nisso ao fazer a história?

Será que isso importa?

Chega uma hora em que a história de mistério, assim como um filho, cresce e sai debaixo da mão do escritor. Se isso não acontece, é porque ela ainda não está madura.

Assim como a traição de Capitú, este talvez seja um dos vários mistérios que vivem eternos pela cultura humana, assombrando como fantasmas, encantando como deuses.

Comentem suas opiniões, críticas, tudo o que vier à mente. Digam se gostariam de mais análises assim também. Por hoje é isso, pessoal. Até a próxima!