Nos primórdios do RPG era comum vermos masmorras, castelos dos enigmas e diversos quebra-cabeças para que fosse possível o avanço dos jogadores, mas em determinado momento esses recursos foram diminuindo e hoje são bem raros em livros e revistas do gênero.

Mas creio eu que uma grande parcela dos rpgistas, e grande parte dos blogueiros de RPG adoram falar sobre isso! Digo isso pela riqueza dos conteúdos que encontrei em uma pesquisa rápida pela internet, onde vi em grupos de RPG do Facebook bastante gente pedindo dicas e ajuda para formular desafios e pela quantidade de artigos abordando esse tema que encontrei em blogs e sites de RPG.

Então vamos tentar somar, e não apenas falar tudo o que já vi por ai (e pra quem tiver interesse em ver mais eu recomendo o pontos de experiência, que tem uma serie intitulada enigmas e charadas muito boa mesmo).

Primeiro vamos entender o que são esses puzzles e como podemos utilizá-los na mesa. Generalizando, são desafios mentais ou de habilidade, que devem ser concluídos para disparar um gatilho, alavancar alguma ação em resposta que ”beneficiará” os jogadores, abrir uma porta ou liberar um caminho, ligar ou parar um mecanismo, poder pegar um item, destruir um tipo de feitiço e por aí vai. O limite é sua imaginação, não apenas para o gatilho, mas também para os desafios.

O ponto mais importante a ser levando em conta ao se por um desafio desse na sua sessão é: Isso será divertido? Então devemos construir nossos desafios de forma que a resposta final seja sim! (Não se esqueça que deve ser divertido para todos, não apenas para você que é sádico e quer ver a cara de desespero dos seus jogadores)

– E que deve ser levado em consideração para isso?

O tempo: uma charada ou quebra-cabeça que leva 10 a 20 min para ser solucionado é divertido, passar 1 ou 2 horas tentando achar a solução é extremamente frustrante e chato. Se for algo muito demorado provavelmente será cansativo e os PJs perderam o interesse. Isso vai deixar o jogo lento, maçante e chato! Trabalhe com desafios rápidos!

A dificuldade: O desafio não deve ser muito fácil e muito menos muito difícil, a ponto de que os jogadores não consigam resolvê-lo. Se for muito fácil, é apenas uma perda de tempo, melhor não por desafio nenhum. Se for muito difícil os PJs perderão muito tempo e ficarão frustrados se não conseguirem resolvê-lo. O ideal é algo médio para difícil, algo que os jogadores possam resolver com um pouco de dificuldade, e que ajam dicas ou mecânicas para ajudá-los a achar a resposta.

Uma boa dica é se utilizar algo já vivido ou visto pelos jogadores como dica ou resposta.

-Então quais podem ser os desafios?

Os mais comuns são charadas e problemas lógicos, algumas pessoas consideram armadilhas como parte desses desafios (talvez por ser algo que também faz parte das “masmorras”, e como esse tema é fortemente ligado a elas) mas eu considero armadilhas mais como um desafio “sistemático”, pois mesmo que os jogadores sejam precavidos e tentem evitar cair em armadilhas, sempre há possibilidade de testes de percepção para nota a armadilha, ou reflexos para se esquivar depois que a armadilha é acionada.

Charadas

Charadas e enigmas são jogos onde se propõe decifrar uma coisa descrita de forma obscura e ambígua. Basicamente você deve tentar descobrir o que é descrito, e para tornar a coisa toda divertida, a descrição é feita por meio de sinônimos e jogos de palavras para confundi-lo. Exemplos de charadas:

Essa coisa te devora
Pássaros, monstros, arvores e flores
Mastiga o ferro e morde o aço
Reduz em pó as rochas mais resistentes
Mata o rei e destrói as cidades
e destrói as montanhas mais altas.

Resposta: O tempo

Sempre quando chego trago a tristeza
Mas sempre chego na hora certa
As vezes venho depois de uma doença
E outras, depois de um ato de violência

Resposta: A morte

“É mais poderoso que os deuses, mais maligno que os demônios. É algo que os pobres tem e os ricos precisam. Se você comê-lo, você morre. O que é isto?”

Resposta: Nada

É difícil medir um grau de dificuldade de uma charada com exatidão, pois algo que pode ser simples para você nem sempre será os jogadores. Então é sempre bom ter um plano B e até C na manga, minhas dicas principais são:

• Dê dicas: Separe pelo menos 3 dicas que ajudem o grupo a resolver a charada. Sempre há aquele jogador para bravejar, “Mas o meu personagem tem inteligência 18, ele é muito mais inteligente do que eu e saberia a resposta para essa charada”, para se poupar de um drama na mesa dê a oportunidade aos PJs com atributos elevados de inteligência ou conhecimento a chance de rolar um teste para receber uma dica. A dica também pode vir de quem esteja falando ela para os PJs e a forma mais interessante de todas, distribuir dicas ao longo da cena, pode ser algum item descrito uns 15 min antes enquanto os jogadores passavam por um corredor cheio de quadros, algum objeto ou acessório no encarregado de lançar a charada.
• Não deixe que a charada seja a única forma de avançar: Deve sempre haver outro caminho, ou alguma forma de contornar a situação mesmo sem resolver a charada. Digamos que a charada seja proposta por um guardião de uma biblioteca muito antiga, e que seu discurso seja que para entrar deve mostrar seu valor respondendo a uma charada, os jogadores também têm a opção de encher o guardião de porrada e avançar. Outro exemplo seria, uma porta que só se abre quando for dita a resposta da charada entalhada nela, os jogadores podem usar de meios mágicos para atravessar a porta como magias para ficar intangível, incorpóreos e por ai vai.

Geralmente as charadas são usadas em partes realmente importantes do jogo, para passar por um caminho que deve ser percorrido pelos personagens, mas porque não utilizar charadas como passatempo? Uma aposta de bar por exemplo? Um NPC que gosta de usar charadas para se comunicar e dar dicas aos aventureiros sobre os perigos que vão enfrentar ou até mesmo usar charadas em sonhos e visões dos jogadores (por ter poderes de oráculos/uma mensagem divina).

Ao se trabalhar com charadas sempre devemos nos lembrar que a nossa mente nos prega peças e as vezes mesmo que a resposta esteja na sua frente as vezes você simplesmente não consegue ver. Não se estresse e nem desrespeite seus colegas de mesa por algo do tipo.

Vou deixar o link para uma página que vou criar e ir pondo charadas esporadicamente para dar algumas ideias para vocês! Clica aqui!

Problemas lógicos

Desafios com números, quebra-cabeças, jogos de combinação e ilusão. Problemas em que você deve deduzir a resposta usando a lógica a partir das dicas dadas. Existem inúmeros problemas de logica e as vezes pode ser bem complicado trazê-los para dentro de sua campanha.

Quanto a dificuldade e o tempo, são basicamente a mesma coisa do uso das charadas, a não ser que seu “puzzle” seja bem divertido e que cada parte dele os PJs tenham que enfrentar vilões e ele não se torne maçante. As funções são as mesmas, mas em relação aos puzzles podemos brincar um pouco mais.

Os puzzles são mais maleáveis e funcionam bem em qualquer tipo de cenário, do medieval ao futurístico. E é claro que podem ser jogadas campanhas inteiras movidas por puzzles.

– COMO ASSIM LOUCO???

Duas palavras: Sherlock Holmes. Jogos de mistério, JOGOS DE MISTÉRIO!!! Campanhas de mistério são basicamente um grande puzzle, claro que as rolagens vão fazer parte do jogo e levar os PJs a acharem ou não determinadas pistas, mas o principal é interpretar as dicas e resolver o caso, e isso é um puzzle. Claro que também podem ser usados mistérios em qualquer campanha não apenas em especificas do tema. Mais para frente eu ou o Dimitri fazemos um post sobre o assunto para ajudar quem tiver dificuldade.

Apostas de bares são um ótimo passa tempo e existem dezenas delas por ai, podem ser usadas em todo tipo de cenário (pelo menos eu não conheço nenhum que não tenha um bar/taverna): O desafio é o seguinte, você coloca 4 copos na mesa, 3 copos de cerveja (canecos, o que for) e um copo de dose (ou qualquer copo pequeno), o desafiante deve beber os 3 copos de cerveja, e desafiado apenas o de dose, quem terminar de beber primeiro ganha. As regras são as seguintes o desafiado só poderá pegar o seu copo para beber depois que o desafiante terminar de beber seu primeiro copo e o pôr na mesa, nenhum dos dois pode tocar no copo do outro. O desafiante vai pega o primeiro copo, beber todo e então o colocar virado, de cabeça para baixo, encima do copo do desafiado, que não pode tocar no copo do desafiante e não vai conseguir pegar seu copo, tendo que assistir enquanto o desafiante toma os dois copos restantes sem pressa. Há um jeito de ganhar o desafiante, me digam nos comentários!

Você pode encontrar vários jogos de logicas e desafios de bar no Manual do Mundo.

Eu falei muito sobre que os desafios devem ser rápidos e divertidos porem como tudo na vida, existem exceções. E as vezes os jogadores precisam se lições mais duras, ou apenas por sua paciência a prova (muahahahahahaha), então em determinadas situações você pode fazer desafios até impossíveis, para que os PJs aprendam seu lugar e saibam que não são tão f#dões quando pensam.

Brincadeiras à parte, uma charada ou desafio semi-impossível pode ser bem útil para afastar jogadores de locais no mundo onde eles ainda não estão preparados para ir, para forçá-los a repensar a estratégia e procurar outros métodos, para lhes ensinar uma lição valiosa!

Vamos a um exemplo bem completo, digamos que você tem um jogador bem impaciente, daqueles que ataca tudo que se move e seu futuro será sombrio se continuar dessa forma, muitos mestres simplesmente matam esse personagem, mas dificilmente o PJ vai tirar algum valor disso. Então mostre-lhe que se ele tiver calma e tentar resolver as coisas de outra forma ele pode ser bem recompensado.

Ruffgar era um combatente muito cabeça quente e achava que podia resolver tudo no braço, várias e várias vezes meteu seus familiares e companheiros em encrenca pelo seu jeito. Ele havia abandonado seu lar ha vários anos e devido a acontecimentos recentes em sua vida de aventureiro estaria passando próximo de casa, o que ele não sabia era que seu pai tinha falecido por conta de uma doença. O pai de Ruffgar um experiente aventureiro deixou-lhe de herança nada além de uma pequena caixa, com o símbolo de família encravado na tampa, sem saber onde seu filho estava e quando voltaria, usou suas últimas forças para lhe deixar um presente e uma lição. Quando a caixa foi entregue a Ruffgar uma luz bem fraca saiu do desenho, revelando que era formado por pequenos pedaços, que se embaralham todos, desfigurando o símbolo, o único que podia mover as peças era Ruffgar.

A cada tentativa de quebrar a caixa ela soltava uma enorme carga de eletricidade causando um dano considerável. E mesmo após quase morrer tentando golpear a caixa, ele não conseguiu nem arranhá-la.

Então para poder abrir a caixa e ver o que seu pai lhe deixou de herança ele deveria vencer o quebra cabeça e abrir a caixa, não havia outra forma. O quebra cabeça então seria dado ao jogador de Ruffgar sempre durante as sessões para que ele tentasse resolvê-lo e tomado ao fim de cada sessão.

Então eu modifiquei um quebra-cabeça bem simples para deixá-lo com uma cara mais atrativa para o PJ, basta pegar um desses quebras cabeças pequenos de letras, medir o tamanho interno dele(das peças) preparar uma imagem de tamanho igual, imprimir e colar sobre o quebra-cabeça, daí você corta com um estilete o desenho, separando as peças, você também pode passar um pouco de cola ou até mesmo um papel contacte transparente (aquele que usávamos para encadernar os livros) para deixar o desenho mais resistente. Vou deixar aqui um PDF com alguns modelos já no tamanho do quebra-cabeça.

Então por essa sessão é isso, depois pretendo retornar a esse assunto para falar sobre outros tipos de desafios para os jogadores, boas rolagens e toma ai 500xp!

Além do Pontos de Experiência citado no começo do texto, o Kobold Press tem bastante material em inglês na serie Encouter Codex.

Então o que vocês acharam? Foi útil de alguma forma? Deixei algo de fora? Escreve um comentário, deixe sua opinião, compartilhe uma charada, faça uma pergunta, o importante é participar!