Roladores e roladoras de dado, vamos voltar as atividades falando de algo que eu amo… Femme Fatales e como adaptá-las ao RPG…
Mas primeiro… Maracas Um pouco de história.
Se meus amores já tem um pouco de noção do que seja uma Femme Fatale, já pode pular as duas introduções.
Noir
Não tem como falar de Femme Fatale sem lembrar das obras Noir da décadas de 40-60.
Sem muitas delongas, eram filmes escuros (daí o nome Noir que significa escuro em francês) com muita utilização de sombra, para demonstrar um mundo obscuro, sínico, onde a verdade sempre está em baixo de muitas trevas.
No meio disso temos um protagonista dúbio, normalmente de bom coração, mas cínico, insensível e desiludido, com hábitos autodestrutivos, como alcoolismo, normalmente devido ao seu passado obscuro.
Galera se vocês querem que eu faça um artigo/vídeo ensinando vocês a fazer um RPG Noirzão deixa aí no comentário…
Por hoje, vamos apenas dissecar umas das principais Tropes do Noir que é a Femme Fatale (que eu vou abreviar para FF, não confundam com Final Fantasy).
Femme Fatale
“Elas são o tipo de damas que podem usar vestidos longos e mesmo assim parecer como se estivessem completamente nuas. Que têm cabelos empilhados na cabeça como serpentes ou caindo em ondas suaves e brilhantes. Damas com rostos duros e sorrisos zombeteiros, e olhos que avaliaram você e o encontram desejando-as …”
James Lileks, The Bleat, para 7 de fevereiro de 2003
Nos filmes Noir os protagonistas sempre topavam com uma FF que nada mais eram do que uma mulher linda, mas promíscua, amoral, traiçoeira e dissimulada. FF normalmente é traduzida como “mulher fatal”, ou “dama fatal”, mas a melhor tradução seria uma mulher pelo o qual vale a pena morrer, que é o subtítulo do segundo filme de Sin City, onde temos uma dama fatal interpretado por Eva Green (amo), que arrasta a trama e os outros personagens pra onde ela quer, manipulando-os e jogando-os numa emaranhada teia de amor, traição e morte.
A femme fatale detém uma posição polêmica, mas significativa tanto em relação à história do cinema quanto em relação aos discursos mais amplos sobre feminilidade. Na verdade, tal figura, além de se mostrar resistente a qualquer tentativa de definição, ocupa uma posição complexa em relação aos estudos de gênero e de seu contexto cultural, uma vez que a femme fatale é altamente ambivalente em termo de sua validade enquanto ícone feminista, e ainda oferece alguma das imagens mais potentes do poder feminino representadas no mainstream cinematográfico.
DELAPLACE, AlexandraJovanovitch, UNIFESP
Como vocês bem sabem, nós do R2PG temos uma política da não lacração, mas não tem como falar de FF, sem falar da mulher e sua posição diante do mundo, e para poder aplicar de maneira perfeita uma FF no seu RPG é necessário ter certos entendimentos sobre o que ela representa…
Muito comum usarem o termo FF para atribuir à personagens como Witchblade, Jessica Jones, Capitã Marvel são rotuladas de FFs só porque são fortes e decididas, ou porque tomam posse de sua própria sexualidade. Não se enganem isso não faz nenhuma mulher uma FF, apenas as faz uma mulher normal deste século… A dama fatal necessariamente é uma mulher anti-heroína, ou vilã propriamente dita.
Não ache que qualquer mulher mais forte e sexual já automaticamente receba o rótulo de FF, como se essas coisas por si só já as colocassem fora do padrão de comportamento das “boas mulheres”.
Certo Dimitri, acho que entendi, FFs não são mulheres bonitas que podem arrancar a sua cabeça, são mulheres bonitas que querem arrancar a sua cabeça…
Na verdade, não…
Bem então não entendi nada…
Ne verdade já entendeu alguma coisa, só que como a Delaplace já nos explicou ali em cima, esse tipo de personagem é de difícil definição, mas nós já demos um passo, entendemos que heroínas (estou utilizando a palavra heroína não como protagonista e sim como personagem heroico, autruísta…) não podem ser consideradas FFs…
Agora vamos falar sobre outros aspectos, acho que nas definições que eu utilizei muito a palavra “belas”, mas a palavra mais correta deve ser sedutoras, não precisa ser linda nos padrões sociais, mas precisa do mistério, do jeito de falar, a maneira de passar sexualidade e perigo ao mesmo tempo é mais importante em si do que a beleza.
E elas devem ser vilãs? Também não.
Mas elas devem ter a preocupação total com sigo mesmas e com seu prazer, egocêntrica e hedonista, não precisa ser alguém necessariamente má, para melhor entender trago duas personagens icônicas Era Venenosa e Jessica Rabbit.
Enquanto Era Venenosa deseja exterminar a raça humana, em alguns quadrinhos e em outros tem desejos menores, mas mesmo assim ligadas ao ecoterrorismo, ela não se importa com as consequências, ou com inocentes, com seus encantos físicos e químicos ela domina os homens como ferramentas e faz o que deseja.
Já do outro lado Jessica Rabbit outra “mulher” bela e sedutora, que utiliza-se de sedução e charme para conseguir o que quer, mas no caso dela é soltura do próprio esposo, mas mesmo assim não podemos chamá-la de heroína, a pesar de buscar a liberdade de seu marido, o faz por qualquer método, incluindo chantagem e insinuando troca de favores sexuais e quando fala de Roger Rabbit(esposo), nunca cita de suas qualidades, ou se o mesmo é incapaz de fazer o crime que é acusado, apenas do prazer que ele proporciona pra ela, que o mesmo a faz rir (percebe a diferença de falar que que a faz rir ao invés de fala que ele é engraçado?), que é melhor amante que um motorista (não tenho comentários sobre isso) e que é melhor que o pateta (espero que não seja no mesmo sentido que ele é melhor que os motoristas).
Então bora entender, independente se ela é a protagonista, antagonista, vilã (não lembra qual a diferença? Relembre aqui!), personagem auxiliar, a FF é uma personagem egocêntrica e vê a maiorias das pessoas e coisas como peões de seus planos, degraus para os seus objetivos e ou ferramentas para o seu prazer e mesmo assim não são personagens que devem ser consideradas más. Voltando ao exemplo, Jessica Rabbit é uma mulher que ama (do jeito dela) o seu esposo e está disposta fazer muito por ele e Era Venenosa é uma defensora um tanto quanto exagerada) das plantas que não podem se defender por si só, afinal ela é uma “mulher planta” e vê os vegetais como se fossem mais importante que as pessoas, quase como um jardineiro que quer exterminar as lagartas de seu quintal.
Analisando agora escolhi como exemplo uma mulher-planta e uma mulher-toon.
Agora o segundo requisito… Beleza… a beleza é algo tão difícil de definir quanto a própria FF o que é belo para alguém não necessariamente é belo para outrem, devemos nos preocupar o quanto ela é atrativa, afinal duvido que a mesa vá dividir com perfeição seus gostos pessoais de beleza…
Tranquilo, e agora? Como faço para construir essa FF sem focar em beleza e sim na atratividade?
Calma, essa é pra próxima parte… quando eu vou ensinar como construí-las em seu RPG.
Não quero ser prepotente e dizer que nesse pequeno artigo vou esgotar todo assunto do que é e como fazer uma FF, tendo em vista que até hoje elas são objetos de pesquisa em universidades.
Agora vamos para o ultimo e mais importante detalhe que toda FF trás… a Ruína.
As garotas dos filmes Noir provinham de dois tipos: a mocinha prestativa, fiel, confiável, amável e obediente; ou a mulher enigmática, irresponsável, falsa, perversa e manipuladora.
Em geral, o protagonista procurava se esquivar de seu passado obscuro, e como já disse, costumava ser envolvido e preso em uma teia de crimes complexa que o levaria a evidências sufocantes de corrupção, amor, luxúria e morte. A ff, transgressora das normas sociais com suas ações alarmantes, conduziria ambos à ruína.
Seja a prisão ou a morte o destino de quem se envolve com a FF é perverso, para ele e para ela também. As grandes exceções se encontram quando a FF também é a vilã da história, assim o final normalmente acaba de três jeitos, ou o protagonista se volta contra ela quando descobre seus planos (lembrem-se a FF sempre é velada, nunca é clara com relação ao que deseja) e a ruína recai sobre quem perdeu, ou seja, se o protagonista prevaleceu a ruína recai sobre a FF e vice versa, ou ele perdoa a FF e se junta à ela ao final que acabam se dando bem, apesar de recomeçarem suas vidas de modo mais sombrio a partir dali (como os personagens de Antonio Bandeiras e Angelina Jolie em Original Sin), ou ambos se arruínam com a derrocada dos planos.
Femme Fatales na sua Mesa de RPG
A primeira e grande dica que tem que ser encucado quando você for fazer uma FF seja como NPC ou PC, é que não basta ser bela para ser uma FF. Não importa, onde ela se encontre, seja no fundo do poço, seja ocupando a melhor posição social daquela região, a FF controla a história e o mundo pertence a ela, pois ela é inteligente e controladora.
Como assim Dimitri? Eu devo dar poderes pra ela, caso eu faça uma FF?
Não há limites de como uma FF deve ser, pode ser uma mulher hiper poderosa, que controla magia, tecnologia, poder político, poder financeiro, ou simplesmente não ter nada disso, pois seu lugar no universo é sempre o mesmo… o epicentro!
Então, sabendo disso, a primeira coisa a se pensar na criação da FF é: o que ela quer? Isso vai influenciar se ela irá antagonizar os PCs, ou “auxiliá-los”, caso seja um personagem jogador, deve sempre ter uma preocupação maior com seus interesses do que com qualquer outra coisa.
A segunda coisa importante é sua questão mental…
Lembra do filme Dark Knight Falls em que o Batman enfrenta o Coringa e talz? Nesse filme Alfred (mordomo de Bruce Wayne) fala sobre o Coringa da Seguinte maneira:
“Alguns homens não procuram nada lógico como o dinheiro. Eles não são compráveis, ameaçáveis, razoáveis ou negociáveis…”
A FF pode se enquadrar nesse grupo, apesar de que seu objetivo pode não ser ver o circo pegar fogo, ela não é manipulável, ameaças, violência, isso no máximo vai gerar um sorriso e um olhar de desprezo, ela se quebra antes de se dobrar.
Quando for criar esse tipo de mulher deve pensar nesse psicológico, independentemente se ela for a feiticeira mais poderosa da face da terra, ou uma camponesa de lvl 0, ela é imune a blefe, ameaça, intimidação, violência e qualquer outro tipo de ação que a faça trair seus próprios planos. Se você já assistiu pelo menos um filme Noir sabe, a única coisa que faz a ff falar são as evidências coletadas e jogadas na sua fuça, quando os jogadores entenderem seus planos e perceberem que não passam de peões.
Caso a FF for uma personagem de jogador(a) lembre-se de colocar pontos em resistências contra estes tipos de ataques psicológicos (entenda não estou falando de magia e sim de manobras sociais).
As coisas mais importantes já foram construídas para a sua FF, mas nunca se esqueça da questão da ruína, seja você como mestre ou como jogador, lembre-se você está no epicentro do universo e não tema pisar em ninguém, nem que seja o PC de seu coleguinha, o jogo é esse.
Então… acho que você já tem o mínimo para criar e interpretar sua Femme Fatale, ficou alguma dúvida? faltou alguma coisa? Curte filme Noir? Qual seu filme de investigação favorito? Comenta aí!!!