Enquanto escrevo essa primeira linha, ainda não sei o título que darei à este texto, sei que não será uma “carta aberta a Marcos Feliciano”, nem será uma “Nota de repúdio à censura” estes textos já foram magnificamente escritos por outras pessoas. Estou escrevendo para ressaltar um pequeno ponto que foi esquecido, ou não fora dado a devida atenção, nestes textos que circulam por esta maravilhosa internet, o último refúgio dos homens e mulheres de pensamento livre.
Antes de ressaltar o ponto que prometi, preciso esclarecer algumas coisas. Primeiramente quero dizer que não faço parte de nenhum grupo que “persegue” ao mesmo tempo em que é perseguido por Feliciano. Quero afirmar também que sei que muitas das histórias, do político em questão, são exageros, ou simplesmente mal entendidos (mas não cabe a mim resolvê-los, afinal, não faço parte da assessoria de imprensa do deputado). Digo até que respeito Marco Feliciano como político.
Não estou aqui querendo fazer um morde e assopra, quero apenas deixar claro que estou fazendo este texto, como um brasileiro, e não como um amante do RPG, nem mesmo como um alguém que odeia, ou ama, tudo que Feliciano faz e diz em sua carreira.
Mas uma ação fora tomada por Feliciano no dia 19 de setembro, não como pastor, pois se assim o tivesse feito, estaria corretíssimo, impedir as ovelhas de de trilhar o que ele acredita ser um péssimo caminho, é parte de suas obrigações. Não, infelizmente ele agiu como político e como político ele não deve impedir-nos de seguir qualquer caminho que seja, pois, seguir o que sua base eleitoral espera dele é uma coisa, mas censura, é outra.
Na data acima o Deputado Federal apresentou um Projeto de Lei, o PL 8615/2017, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, que propõe, em suma, que todo e qualquer tipo de apresentações indique a classificação indicativa, bem como, que programação de TV, cinema, DVD, jogos eletrônicos e de interpretação – RPG, sejam proibidos de profanar símbolos sagrados.
Aqui segue o corpo da PL, por favor leiam e tirem suas próprias decisões.
Existem vários textos que discutem o que seria “profanar”? Qual o limite? Quem diria o que é profanação ou não?
Ou então focam no político que propôs, afirmando que é só uma maneira de ganhar mídia em cima das polêmicas da exposição do Santander e do Fight of Gods. Não vou explanar, mas com facilidade se encontra no google, ambos os casos.
O meu ponto, é simplesmente a censura.
Alguns podem argumentar que estou me escondendo atrás de uma falsa liberdade de expressão para poder ofender as religiões e sair impune. Mas é justamente o contrário, eu só quero que a nossa Constituição seja respeitada, assim como temos liberdade ao culto, temos direito de falar, mas respondemos pelo que falamos.
Pois já há uma lei que trata sobre vilipêndio a objetos e rituais considerados sacros por alguma religião. Pois há a necessidade de responsabilidade em uma democracia e ofender qualquer religião é algo que deve ser exemplarmente punido. Mas o PL de Feliciano não adiciona a esta Lei, meramente impede a circulação de qualquer obra que por ventura alguém ache que seus símbolos foram profanado.
Aí a máquina estatal, na mão de um pastor, vai nos dizer o que nós não podemos ler ou jogar. O que me preocupa, pois esse sempre é o primeiro paço, primeiro eles nos dizem o que nós não podemos ler ou ouvir, depois eles nos dizem o que nós devemos ler e ouvir, depois eles nos dizem como nos vestir e como pensar.
E quando percebermos estaremos vivendo em um país em que a censura é a regra e a liberdade uma exceção.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
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