O Arco do Personagem – As mudanças ocorridas aos personagens durante a campanha

Vocês sabem o que o Arco do personagem?

Yoooo roleplayers! Como vocês estão? Tudo belezinha? Galera hoje eu quero falar com vocês sobre o desenvolvimento do personagem! Então vamos falar um pouco sobre o que deveria acontecer quando seus personagens sobem de nível!

Ao longo das campanhas vemos personagens subindo de nível, ficando cada vez mais fortes e poderosos e muitas vezes, cometendo os mesmos erros de quando eram apenas aspirantes a aventureiros.

Quantas vezes no meio ou até mesmo no fim da campanha tem aquele jogador que faz uma burrada na mesa e quando o grupo reclama ele tenta se justificar com algo do tipo “Ah mas meu personagem é assim, ele sempre foi assim desde o começo da campanha”… Ou quando depois de mil anos de campanha o cara cai em uma armadilha de baú, “Ah mas como eu ia saber que ia ter uma armadilha?”, serio? Esse é o primeiro baú que você abre em uma masmorra na sua vida?arco do personagem - demolidor

As escolhas feitas pelo personagem não são ações vazias. Além das consequências na trama e no cenário, as escolhas do jogador devem também provocar mudanças na personalidade do personagem ao longo da história. A evolução do seu personagem não deve ocorrer apenas nos pontos em sua ficha, ele deve ser transformado por suas ações. As mudanças ocorridas com o personagem ao longo de uma história têm a denominação de: Arco do personagem!

Sobre a ficha

No artigo Criando personagens de RPG! falamos sobre como a ficha do seu personagem deve ser coerente ao seu background, sua aparência, saúde e por ai vai… Então agora vamos reforçar que isso deve ser levando em consideração não apenas na hora da criação do personagem, mas também na evolução do mesmo.

Seu personagem pratica com a espada todas as noites antes de dormir, e quando você ganha experiência suficiente para evoluir a ficha você não põem pontos em nada relacionado a esgrima, mas eleva habilidades relativas a combate desarmado. Mas pera? Que horas você aprendeu Kung Fu? Você é o Neo por acaso?

neo-i-know-kung-fu

Já falamos sobre isso no artigo sobre Pontos de experiência, então não vou me repetir muito, basta ser coerente ao que você fez ao longo das sessões, o que você exercitou e o que você aprendeu devem ser evoluídos, talvez algo que você necessite para as situações futuras, mas que tenha o mínimo de coerência!

Por exemplo: Você está sozinho e vai enfrentar um número grande de inimigos, sabendo da necessidade de evolução para que não morra o mestre decide lhe dar seu XP para que suba de nível. É claro que você deve adquirir habilidades que serão relevantes no combate. Trazendo para D&D para exemplificar:

gif madara guerra naruto

Adquirir um talento como Reflexos de combate lhe daria uma certa vantagem para lidar com os oponentes entrando em sua área de combate. Criar reflexos rápidos o bastante para atacar vários inimigos que se aproximam na mesma rodada é resultado de muitas batalhas e se seu personagem já participou de vários combates é plausível que ele adquira esse talento agora.

SOA kirito two swords gif

Agora adquirir um talento como Ambidestria sem nunca ter praticado com a mão inábil apenas para poder usar uma segunda arma magica que você encontrou assim dobrando seu poder de destruição não faz muito sentido.

Sobre a interpretação

De que adianta um personagem de 20° nível que comete os mesmos erros de um aventureiro iniciante?

Diferente dos jogos de RPG virtuais onde você vai acumulando pontos em uma ficha e adquirindo habilidades cada vez mais poderosas, no RPG de mesa também devemos focar no lado da história, assim como um bom livro ou filme, os personagens principais devem amadurecer e se desenvolver como pessoas.

Ao longo da jornada dos personagens jogadores, independente do sistema e do cenário da campanha, a todo momento ele deverá tomar decisões sobre o que fazer, como agir em determinadas situações, e essas decisões nem sempre serão as mais adequadas ou inteligentes… Nós devemos aprender com nossos erros e isso deve se refletir nas ações do personagem.

Flanquear D&D

Seja no âmbito sistemático do jogo, como aprender que tal estratégia não funciona bem durante um combate, como fazer melhor uso de suas magias, que não é muito inteligente tentar nadar de armadura, entre outros…. Seja no âmbito psicológico, o que seu personagem aprendeu com as perdas geradas por uma ação precipitada? Quais lições ele aprendeu em suas jornadas? Quais laços foram criados com os outros jogadores e com os NPCs?

sam vs orc LOTRComo tudo isso vai influenciar no comportamento dele?

Vou dar um pequeno exemplo, em O Senhor dos Anéis, Sam sempre foi um hobbit medroso, cauteloso e cuidadoso. Vocês acham que no primeiro filme da série ele confrontaria o Sméagol? E tenho certeza que assim como eu, vocês vibraram ao ver Sam, o pequeno do condado sacando uma espada e indo confrontar um orc! Sam não deixou de ser medroso, cauteloso e cuidadoso, mas ao longo da sua jornada ele viu a bravura de seus companheiros, viveu situações das mais adversas e sobreviveu, sem dúvida ele ainda tinha medo, mas ele sabia que se ele se acovardasse ali, seria o fim de seu amigo, ele aprendeu que ser corajoso não era não sentir medo, era agir mesmo que estivesse com medo.

Então, a natureza de seu personagem não precisa mudar, mas ele deve crescer como pessoa, se as ações irresponsáveis do bárbaro do grupo vivem metendo o grupo em confusão um dia ele vai aprender a se conter e pensar um pouco antes de agir, mas dificilmente isso irá acontecer após duas sessões e sem um grande motivo. Quem sabe algum de seus companheiros morra devido a sua falta de paciência, isso seria um motivo bom para fazê-lo pensar duas vezes antes de fazer outra besteira. Isso não quer dizer que deixará de ser cabeça quente, mas quer dizer que ele tentará se controlar para que uma ação impensada não acabe por prejudicar seus companheiros.

Sobre alinhamento

alinhamento rpg

E enquanto ao alinhamento/tendência/natureza do seu personagem? As escolhas tomadas e consequências resultantes delas podem influenciar o alinhamento do personagem?

A algum tempo atrás eu vi em algum grupo do Facebook um mestre perguntando sobre as ações de um personagem que iriam contra o alinhamento do mesmo, e como proceder… e vi algumas respostas que me deixaram bem desanimado… algo do tipo “Se ele é leal e bom ele não pode fazer isso… você não deveria deixar ele fazer isso…”. Eu particularmente acho que isso passa longe de ser uma resposta plausível.

Para começar não importa o que o jogador escreve em sua ficha como tendência ou alinhamento, o que importa é como ele age. Se seu personagem age como leal e bom tudo bem, se ele age como caótico e neutro e por aí vai, eu acho que o papel de determinar a tendência do personagem deveria ser do mestre, pois ela só pode ser determinada analisando as ações do personagem.

Ah, mas a minha classe exige que eu seja leal ou bom. Então aja de forma condizente com esse alinhamento, e se você se afastar dele o narrador tem todo o direito de mudar sua tendência e assim remover os benefícios (totais ou parciais) de sua classe devido a sua conduta.

arco do personagem - viv tanner

Já ouviu falar em livre arbítrio? Você pode fazer o que quiser, mas isso terá suas consequências. Mas digamos que seu personagem é bom, sempre foi bom, ajudava aos outros, nunca matou ninguém, nunca fez mal aos outros (eu sei que está absurdo mas segue a linha aqui) … de repente, eu preciso de uma informação de um inimigo, e ele não quer falar de forma alguma, então eu decido tortura-lo.

Errrr pera aí, num era tu que era o bonzão? A Madre Tereza de Calcutá? O mestre não vai permitir que você torture o cara, não faz o menor sentido.

O mestre não tem o direito de dizer o que eu posso ou não QUERER fazer. Se eu quiser torturar o cara eu posso sim tentar. Mas não vai ser fácil…. Isso vai contra tudo que o seu personagem é, então quais os recursos do mestre nessa situação?

Para começar um teste de vontade ou algo do tipo para você ter a coragem de machucar alguém, afinal de contas você nunca fez isso na vida. Os dilemas começam a se formar dentro de você, “isso não é certo, eu não deveria…mas é o único jeito, meu objetivo é maior que tudo isso…”. Caso falhe você não consegue, é mais forte que você, as lágrimas não param de escorrer pelo seu rosto, o remorso do que quase fez está o consumindo.

Caso tenha sucesso você começa a tortura, você opta por arrancar as unhas dele com uma faca, assim será mais rápido, para ele e para você. Você enfia a faca entre a unha e a carne dele, a sensação da faca perfurando carne, o grito desesperado, as lágrimas, a feição de sofrimento, isso é demais para o seu estômago, a vontade de vomitar toma conta de você. Outro teste, você terá estômago para continuar?

E o mesmo para quando ele começar a implorar…. Mas digamos que você passe em todos os testes, não desista e vá até o fim, até arrancar a sua informação. O remorso e a culpa do que você fez não irão desaparecer ao final da cena. Esse é um fardo que você carregará, e ele irá mostrar seu peso durante várias cenas que se seguirão do jogo. Pesadelos, flashbacks, penalidades por não conseguir dormir direito, consequências de uma provável mudança de tendência…

Então personagem algum deve ser proibido de tomar qualquer ação, mas ele terá que enfrentar as consequências de seus atos.  E talvez isso seja carregado pelo resto da vida desse personagem, fazendo algumas mudanças em suas ações e comportamentos.

Bom galera por hoje é só, espero que possa ter ajudado mesmo que um pouco e que lhes faça repensar um pouco sobre a evolução dos seus personagens. Se vocês gostaram, se tem algo a acrescentar, se eu esqueci de falar alguma coisa deixa aí nos comentários para eu saber o que vocês estão achando.

500 de XP e boas rolagens!

Não viu os os posts sobre criação de personagem? Veja como criar um personagem realista e como refletir isso na ficha dos seus personagens!

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