O Natal em um mundo medieval.
Cara, não foi você mesmo que disse que quando você fala de mundo medieval você não está tratando sobre o nosso mundo?
Sim…
Então você vai tratar de um tema bem limitado, pois o natal só se repercutiria em um mundo medieval que fosse predominantemente cristão, assim com a nossa idade média foi… Além disso aventuras natalinas normalmente são meio chatas.
Aí que vocês se enganam meus caros leitores. Tem muita coisa boa para ser explorada, deixa eu te mostrar…
AVISO
Nesse artigo irei falar pincelar sobre as origens pagãs do natal. Caso isso possa lhe ofender recomendo o artigo Aula de Arquitetura da Thay: Templos Gregos que está muito foda…
Quero dizer que sou católico e respeito à tradição natalina, independentemente de onde os antigos cristãos tiveram a ideia para tal comemoração.
NATAL
O que significa natal, bem essa palavra provém do latim natālis relativo a nascimento; natalício. Ou seja, natal não significa “só” o nascimento do Rei dos Judeus, mas nascimento como um todo.
Natal para um católico é o nascimento de cristo, mas e para as pessoas de um mundo medieval que acreditam em um deus sol? Os pagãos comemoravam a Brumália (25 de dezembro), que seguia a Saturnália (17 a 24 de dezembro) e comemorava o nascimento do deus sol, já que, pro pessoal do hemisfério norte, a data coincidia com o solstício de inverno, dia “mais curto do ano”.
Nos dias 24 e 25 de dezembro, os persas também homenageavam seus deuses inspirados no sol. No dia que agora corresponde à nossa véspera de Natal, os persas queimavam a imagem de seu deus Agni, feita a partir de um tronco de árvore, e colocavam uma nova em seu lugar. Com o novo deus, os dias começavam a aumentar novamente porque, segundo supunham eles, o seu deus jovem estava cheio de vigor para produzir dias maiores.
Já a festa germânica pagã do solstício de inverno, a Yule, caracterizava-se pelos grandes banquetes, a folia, a troca de presentes e os enfeites em árvores. Segundo a “nova enciclopédia de conhecimento religioso de Schaff-Herzog”, o dia 25 teria sido escolhido para ser o nascimento de Jesus justamente porque já existiam muitas festas neste dia e nada melhor do que continuar com a alegria do povo.
Sim, e para um RPG, de que me serve? Independentemente da data, imagine seus players e aventureiros chegando a uma festividade de natal. Imagens queimadas, ou grandes banquetes públicos.
Lembre-se que o povo medieval tem menos paciência com forasteiros e podem se irritar com os jogadores que não seguirem as regras de seu natal, como por exemplo, jogar metade de toda a bebida na terra, ou arremessar uma moeda no fogo.
Ou ao contrário, por um período os devotos têm de ser extremamente receptivos em tradição ao nascimento de seu deus viajante.
E eu sei que vocês estavam esperando por isso… Um povo que cultua um deus antigo está em uma grande festa, em comemoração ao aniversário desse deus de nome impronunciável. Uma comemoração memorável, regada a bebidas e tudo mais e fazendo de tudo para que os jogadores se divirtam, culminando com uma grande ceia, onde os jogadores serão o prato principal.
Voltando ao Natal, quem gostava da bagaceira em comemoração à nascimento eram os pagãos, os judeus não comemoravam muito seus aniversários. Na própria bíblia apenas duas figuras comemoram seus próprios aniversários de maneira nababesca Herodes e o Faraó, por outro lado temos o Rei Salomão que deu voz a esta atitude quando disse: “Melhor o dia da morte do que o dia do nascimento” (Eclesiastes 7:1). Isto parece uma visão negativa da vida. Mas, depois de uma contemplação mais profunda, isto, de fato, expressa a atitude judaica clássica de que a “ação é a coisa suprema” – que a verdadeira realização, em vez do conceito, teoria ou potencial, é o que importa.
A criança recém-nascida pode estar repleta de genialidade e talento – mas ele ou ela ainda não fez nada com sua vida. Então, o quê há para celebrar? Quem pode saber se seu potencial se realizará? Ou que sua vontade será realizada em direção ao bem e objetivos de Deus?
O dia de falecimento de alguém, por outro lado, é o ápice de sua missão na vida. É quando a soma total de suas realizações vem para a realidade, para exercer suas influências combinadas em nossas vidas. É por isto que o Yohrtzeit de uma grande pessoa é uma ocasião tão especial: quando celebramos uma vida, nós o fazemos em seu momento de maior impacto sobre o mundo.
Mas já estou me perdendo no texto, voltando ao RPG. Eu já falei sobre festejos em cidades e como aproveitar isso em aventuras. Qual o diferencial desse post? Comportamento humano. Ou seja, como as pessoas se comportarão durante as festividades.
Pense primeiramente no deus cujo natal será comemorado. Responda essas perguntas:
- Ele é um deus benigno, maligno ou neutro?
- A comemoração dele tem haver com festa, labor ou penitência?
- Os moradores serão receptivos, ou hostis?
- Quais os costumes que os devotos têm que só praticam durante os festejos?
- Alguma coisa sobrenatural acontece durante esse natal?
E, obviamente, a pergunta mais importante de todas, como isso tudo pode afetar os jogadores?
Uma maneira que minha mesa acha divertida é a influencia nos dados. Independentemente se estamos jogando um jogo sério ou descontraído.
Ex:
• Pelo fato de os jogadores terem aceitado acompanhar a procissão do deus sol e ascender uma pira aos pés da estátua dessa divindade, pode ser que eles tenham mais sorte na luz da manhã, uma re-rolagem, por exemplo.
• Talvez a recusa de se ajoelharem quando a sacerdotisa da deusa da magia passou, magias e itens mágicos percam seus efeitos, ou voltem contra o usuário.
Claro que isso deve ser devidamente narrado:
– Seu golpe passou cortando o nada, a esquiva de seu adversário foi perfeita… MAS a luz do sol bate em você de uma forma diferente, você sente uma energia que nunca sentiu antes. Uma energia que te dá forças suficientes para mais um movimento.
– Você brande sua espada de fogo para intimidar o bando de goblins, mas as chamas que saiam da espada se apagam, como uma tocha que caiu no rio… os goblins se entreolham e avançam sobre você.
Mas o deus do sol vai ajudar os jogadores sempre? Ou a deusa da magia os perseguirá até o fim da vida?
Não, só por um tempo, eles estão mais gratos, ou vingativos pelas honras ou desrespeitos, pois afinal, era o aniversário deles. Era natal.
Espero que não me odeiem, não achem que o natal é algo maligno, se entupam de comida, se divirtam exageradamente, joguem muito RPG e rolem muitos acertos críticos e que próximo ano seja melhor ainda.
Esses são os desejos da família R2PG para você, sua mesa e suas respectivas famílias.
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